Eu acho que vocês, caso não saibam, devem estar se indagando, ao ler
na minha descrição "Interesse em particular pelo Nacional-Socialismo
Alemão e pelo Shinto Japonês", sobre o que é o Shinto.
Não é fácil de explicar, então eu peguei da fonte mais fácil possível: A Wikipédia.
Xintoísmo
Ise Jingu - Honden em Naiku, principal dos santuários xintoístas japoneses.
Xintoísmo (em
japonês: 神道,
transl. Shintō) é o nome dado à
espiritualidade tradicional do
Japão e dos
japoneses, considerado também uma
religião pelos estudiosos
ocidentais. A palavra
Shinto ("Caminho dos Deuses") foi adotada do
chinês escrito (神道),
[1] através da combinação de dois
kanjis: "
shin"
(神?), que significa "deuses" ou "espíritos" (originalmente da palavra chinesa
shen); e "
tō"
(道?), ou "do", que significa "estudo" ou "caminho filosófico" (originalmente da palavra chinesa
tao). Os termos
yamato-kotoba (
大和言葉) e
Kami no michi costumam ser usados de maneira semelhante, e apresentam significados similares.
[1][2]
O xintoísmo incorpora práticas espirituais derivadas de diversas tradições
pré-históricas japonesas, locais e regionais, porém não surgiu como instituição religiosa formalmente centralizada até a chegada do
budismo,
confucionismo e
daoísmo no país, a partir do
século VI.
[3] O budismo gradualmente se adaptou, no Japão, à espiritualidade nativa, como por exemplo na inclusão do
kami, componente da crença xintoísta, entre os
bodisatvas (
bosatsu).
As práticas xintoístas foram registradas e codificadas pela primeira vez nos registros escritos históricos do
Kojiki e
Nihon Shoki,
nos séculos VII e VIII. Ainda assim, estes primeiros escritos japoneses
não se referem a uma "religião xintoísta" unificada, mas a práticas
associadas com as
colheitas e outros eventos dos
clãs relacionados às
estações do ano, aliadas a uma
cosmogonia e
mitologia unicamente japonesas, que combina tradições espirituais dos clãs ascendentes do Japão arcaico, principalmente das culturas
Yamato e
Izumo.
[2]
O xintoísmo caracteriza-se pelo culto à
natureza, aos
ancestrais, pelo seu
politeísmo e
animismo, com uma forte ênfase na pureza espiritual, e que tem como uma de suas práticas honrar e celebrar a existência de
Kami (神?),
que pode ser definido como "espírito", "essência" ou "divindades", e é
associado com múltiplos formatos compreendidos pelos fieis; em alguns
casos apresentam uma forma humana, em outros animística, e em outros é
associado com forças mais abstratas, "naturais", do mundo (
montanhas,
rios,
relâmpago,
vento,
ondas,
árvores,
rochas). Considerado como consistindo de energias e elementos "sagrados", o
Kami e as pessoas não são separados, mas existem num mesmo mundo e partilham de sua complexidade interrelacionada.
[2] O xintoísmo moderno apresenta uma autoridade
teológica central, porém não tem uma
teocracia única. Consiste, atualmente, de uma associação inclusiva de
santuários
locais, regionais e nacionais de variada significância, em importância e
história, que exprimem suas diversas crenças através de práticas e
idiomas semelhantes, adotando um estilo semelhante no vestuário,
arquitetura e ritual, que data dos períodos
Nara e
Heian.
[2]
O xintoísmo tem atualmente cerca de 119 milhões de seguidores no Japão,
[4]
embora qualquer pessoa que pratique algum tipo de ritual xintoísta seja
contado como tal. Geralmente aceita-se que a ampla maioria do povo
japonês participe de algum tipo de ritual xintoísta, ao mesmo tempo em
que a maior parte também pratica o culto budista aos ancestrais. No
entanto, ao contrário de muitas das práticas religiosas
monoteístas,
o xintoísmo e o budismo tipicamente não exigem daqueles que os
professam que sejam crentes ou praticantes, o que torna difícil
contabilizar cifras exatas com base na auto-identificação com alguma
crença, entre os habitantes do país. Devido à natureza
sincrética
das duas religiões, a maior parte dos eventos relacionadas à "vida"
ficam a cargo dos rituais xintoístas, enquanto os eventos relacionados à
"morte" ou à "vida após a morte" ficam a cargo dos rituais budistas
(embora isto não seja uma regra); assim, é costumeiro, por exemplo, no
Japão, registrar uma criança ou celebrar seu nascimento num santuário
xintoísta, enquanto os preparativos para um funeral costumam ser ditados
pela tradição budista.
Existem santuários xintoístas em diversos outros países, incluindo os
Estados Unidos,
Brasil,
Canadá,
Nova Zelândia,
Austrália e
Países Baixos,
entre outros, e está em vias de expansão para se tornar uma religião
global, especialmente com o surgimento de ramos internacionais dos
santuários
shinto.
História
Origens
O xintoísmo tem raízes muito antigas nas ilhas japonesas. Sua história registrada remonta ao
Kojiki (
712) e ao
Nihon Shoki (
720), porém os registros
arqueológicos
datam de um período significativamente mais antigo. Ambas as obras são
compilações de tradições mitológicas orais já existentes. O
Kojiki estabelece a
família imperial como o alicerce da cultura japonesa, na condição de descendentes de
Amaterasu Omikami. Existe também uma
genealogia de criação e aparição dos deuses, de acordo com um
mito de criação. O
Nihonshoki
estava mais interessado em criar um sistema estrutural de governo,
política externa, hierarquia religiosa e ordem social interna.
Existe um sistema interno de desenvolvimento xintoísta que configura
as relações entre o xintoísmo e outras práticas religiosas ao longo de
sua história; os
Kami ("espíritos") internos e externos. O
Kami interno ou
ujigami (
uji significa "
clã") favorece a coesão e a continuação dos papeis e padrões estabelecidos; e o
hitogami, ou
Kami externo, traz inovação, novas crenças, novas mensagens e alguma instabilidade.
Os povos
joomon do Japão utilizavam-se de habitações naturais, ainda não conheciam o cultivo de
arroz, e frequentemente eram
coletores-caçadores;
a evidência física de suas práticas rituais é de difícil documentação.
Existem muitos locais que contêm estruturas rituais de pedra, e
conhecem-se práticas funerárias refinadas, além dos antigos
Torii, que indicam a continuidade do xintoísmo arcaico. Os joomon tinham um sistema
tribal baseado em clãs, similar a muitos dos
povos indígenas
do mundo. No contexto deste sistema, as crenças locais desenvolveram-se
naturalmente, e quando a assimilação entre os clãs ocorreu, as crenças
de tribos vizinhas acabaram por influenciar as outras. A um certo ponto
passou a existir um reconhecimento de que os ancestrais criaram as
gerações presentes, e a reverência aos ancestrais (
tama) tomou forma. Havia algum
comércio
entre os povos indígenas das ilhas japonesas e o continente, bem como
diversas migrações, o que aumentou o crescimento e a complexidade da
espiritualidade dos povos locais, através de sua exposição a novas
crenças. Esta espiritualidade, no entanto, ainda era centrada no culto
às forças naturais, ou
mono, e aos elementos naturais dos quais todos dependiam.
A introdução gradual de organizações religiosas e governamentais metódicas a partir da
Ásia continental, começada por volta de
300 a.C.,
plantou as sementes das mudanças reativas que ocorreriam no xintoísmo
arcaico, ao longo dos 700 anos seguintes, em direção a um sistema mais
formalizado. Estas mudanças foram dirigidas internamente, pelos diversos
clãs, frequentemente como forma de um evento cultural sincrético
direcionado às influências externas. Eventualmente, à medida que os
yamato conquistaram o poder, um processo de formalização se iniciou. A gênese da casa imperial japonesa, e a criação subsequente do
Kojiki,
ajudou a facilitar a continuidade necessária para este desenvolvimento a
longo prazo. O xintoísmo apresenta hoje em dia um equilíbio entre as
influências externas do
budismo, do
confucionismo, do
taoísmo, das
religiões abraâmicas, do
hinduísmo
e de crenças seculares que, embora tenha tido conflitos em seu
desenvolvimento, aparenta atualmente ser natural e não-exclusivo. Em
períodos mais modernos o xintoísmo desenvolveu também novas formas e
suas próprias subdivisões, e até mesmo expandiu-se para além das
fronteiras do Japão, tornando-se uma religião global.
Xintoísmo e budismo
O
budismo foi introduzido no
século VI e trouxe graves consequências para o xintoísmo. Vindo da
Coreia, apresentado ao
imperador,
o budismo, apesar de algumas resistências iniciais, acabou por
triunfar, tendo servido para a consolidação do poder imperial, com o
apoio dos governantes locais.
Apesar disto, a tendência geral, e mais conforme à mentalidade do
Oriente, foi a de fundir as duas religiões, mas sob a égide do budismo.
Durante longos séculos, o budismo impôs a sua influência, sobrepondo-se à religião tradicional, que porém não desapareceu.
Face ao domínio duma religião estrangeira desde logo vários
pensadores e sacerdotes procuraram manter a dignidade e o papel
desempenhado pela religião tradicional. Na Idade Média, vários destes
pensadores fizeram uma união entre os dois tipos de divindades, mas em
sentido contrário ao já referido: os budas eram na verdade
kami encarnados, que assim deixavam o seu estado original para descerem à terra.
Nos sécs.
XVI-
XVII,
viveu-se um momento de renascimento da cultura japonesa, com o
consequente afastamento de influências estrangeiras. Apesar de o
budismo não perder substancialmente o seu terreno, ficou agora relegado para segundo plano, a favor de uma tendência
nacionalista que se afirmava, e que atingiria o seu ponto culminante no período seguinte.
No âmbito da ideologia profundamente nacionalista da
era Meiji,
a escolha duma religião oficial recaiu naturalmente sobre o xintoísmo,
já antes aclamado como a religião verdadeiramente original do povo
japonês, considerado pelo regime como superior a todos os outros.
Criou-se então o chamado
xintoísmo de Estado, uma espécie de sacralização do Estado, ou melhor,
laicização
do xintoísmo. De facto, o xintoísmo foi despido do seu carácter
religioso para se tornar um dever cívico de reverência ao Estado e ao
imperador.
O
xintoísmo estatal
permaneceu em vigor durante algumas décadas. Como expressão do
nacionalismo japonês, exacerbou-se particularmente por ocasião da
Segunda Guerra Mundial. Com a derrota do Japão, precipitou-se o seu
processo de queda. Em
1946, foi proclamada a nova
Constituição,
pela qual o imperador foi destituído de todas as prerrogativas divinas e
de todo o poder político, tornando-se apenas símbolo da unidade
nacional.
Terminologia
No princípio, esta religião étnica não tinha nome, mas quando se introduziu o
budismo
no Japão durante o século VI, um dos nomes que este recebeu foi
Butsudo, que significa "o caminho do Buda". Assim, a fim de diferenciar
do budismo, a religião nativa passou a ser chamada "xinto" (
shinto), palavra de origem chinesa, que combina dois caracteres chineses (
kanji): "
shin"
(神?), significando deuses ou espíritos (quando lido sozinho é pronunciado "
kami") e "
tō"
(道?),
que significa caminho filosófico. Assim, xinto significa "o caminho dos
deuses". O nome chinês foi escolhido porque na época apenas o chinês
era escrito no Japão, já que não haviam desenvolvido ainda a escrita
japonesa.
Tipos de xintoísmo
Reconhecem-se várias expressões do xintoísmo, que são o resultado da
evolução histórica da religião, lugar da sua manifestação e prática
religiosa dos adeptos.
- Xintoísmo dos santuários Jinja Shinto (神社神道): é o conjunto de
crenças que se exprimem através das festas e das venerações nos
santuários. Praticamente todos os santuários pertencem à Associação dos
Santuários (Jinja honchó), fundada em Tóquio no ano de 1946.
- Xintoísmo doméstico: exprime-se nos lares japoneses. Nas
casas xintoístas existe em geral um pequeno altar consagrado aos deuses,
o kamidana. Em cima deste altar encontra-se muitas vezes um amuleto
oriundo do santuário local, do Grande Santuário de Ise e em alguns
casos. Nestes altares colocam-se oferendas (saquê, arroz, sal) e
recitam-se orações.
- Xintoísmo imperial Koushitsu Shinto (皇室神道): é o resultado do desenvolvimento na casa imperial da prática dos ritos e cerimónias do xintoísmo.
- Xintoísmo folclórico Minkan Shinto(民間神道): caracteriza-se pela
ausência de uma sistematização doutrinária e de uma organização. É o
tipo de xintoísmo praticado essencialmente pelos pequenos vilarejos.
- Xintoísmo das seitas Kyoha Shinto (教派神道): é composto essencialmente pelas treze seitas reconhecidas pelo Estado dos Meiji entre 1876 e 1908.
Estas seitas possuem em geral um fundador (homem ou mulher). Até ao fim
da Segunda Guerra Mundial, os grupos xintoístas que não pertenciam a
uma das treze seitas não eram reconhecidos pelo Estado, o que gerou a
integração de muitos desses grupos numa das seitas existentes. Depois da
guerra, e tendo sido declarada a liberdade religiosa, alguns grupos
estabeleceram-se como organizações independentes.
Escrituras sagradas
O xintoísmo não possui um livro sagrado, como a
Bíblia ou o
Alcorão.
Há no entanto um conjunto de textos sobre os ensinamentos da religião
que recebem o nome de Shinten, "escrituras sagradas", mas não são
considerados textos revelados ou de carácter sobrenatural.
- Kojiki (古事記) ("Anais das coisas antigas"): datado de 712, é o texto sagrado mais antigo, sendo composto por três volumes.
- Nihonshoki (日本書紀) ("Crônicas do Japão"): foi redigido em 720 em chinês em 30 volumes. Também conhecido como Nihongi.
- Kogo-shui(古語拾遺): compilação das tradições do clã dos Imbe,
uma família que junto com a família dos Nakatomi era responsável pelos
ritos. A sua redacção foi concluída em 807.
Estes livros apresentam as narrativas míticas da tradição xintoísta.
Os mitos descritos referem-se a um caos primordial em que os elementos
se mesclam em massa amorfa e indistinta, "como num ovo". Os deuses
surgiram desse caos.
Crenças do xintoísmo
Kami
O xintoísmo baseia-se no culto aos
kami
(神). Esta palavra é frequentemente traduzida por "deus" ou "divindade",
o que não traduz completamente o conceito, dado que os kami pode ser
também forças vitais ou espíritos da natureza. Ao contrário dos deuses
das outras religiões, os kami não são onipotentes ou oniscientes,
possuindo poderes limitados. Nem todos kami são bons. Alguns
kami são locais ou conhecidos como espíritos de um local em particular ou a lugares (
montanhas, ervas,
árvores,
vales,
rios,
mares, encruzilhadas). Outros representam elementos ou processos da natureza, como por exemplo,
Amaterasu, a deusa do
Sol,
Tsukiyomi, deus da
lua,
Susanoo, deus dos
oceanos e das
tempestades.
Existem kami ligados a fenômenos atmosféricos (
chuva,
vento (
Fujin),
trovão...), e kamis associados à vida humana (
vestuário,
transportes,
ofícios, etc.). Incluem-se ainda no conceito de kami os espíritos de
homens notáveis, como de certos guerreiros. Os espíritos dos
antepassados também são considerados deuses tutelares da família ou do
país, motivo pelo qual os ritos fúnebres possuem grande relevo.
Os textos xintoístas referem-se a "oitocentas miríades" de kami (八百万神
yaoyorozu no kami);
este número não deve ser interpretado literalmente, pretendendo-se
apenas transmitir a noção de que existem inúmeros kami. Os kami não são
perceptíveis pelo ser humano.
Podem ser divididos em dois tipos: os que habitam no
céu (天津神
amatsukami) e os que habitam na terra (国津神
kunitsukami). Os primeiros trazem à terra influências positivas, enquanto que os segundos mantêm-na como ela.
O kami mais eminente é a deusa-sol
Amaterasu Oo-mikami, antepassada da família real japonesa. O seu santuário principal é o
Grande Santuário de Ise.
Cosmologia xintoísta
Em relação à estrutura do mundo, existem duas concepções diferentes,
que se cruzam e se tomam muitas vezes em paralelo, sem se contradizerem,
pois representam duas perspectivas diferentes e complementares.
A primeira delas é vertical e fala de três mundos distintos: a “Alta Planície Celeste” (高天原 Takama no Hara), morada dos kami do
céu, de onde eles descem, para dar paz, ordem e felicidade. É um mundo descrito como reflexo do mundo dos humanos, uma espécie de
Japão
plenamente belo e perfeito; segue-se o “País do Meio da Planície dos
Canaviais”, morada dos homens, onde os kami desceram; por último, o
chamado “País de Yomi”(黄泉の国 Yomi no Kuni ), subterrâneo, moradia dos
mortos, terra de máculas e de pecados, onde habitam os espíritos
malignos que influenciam o homem para o mal. Esta tradição é a principal
da mitologia xintoísta e reflecte os meios aristocráticos.
A segunda concepção é horizontal, e coloca lado a lado o "País do
Meio" e o chamado "País dos Mortos" que, ao contrário do que o nome
indica, é uma terra de delícias, situada para além dos mares, onde
habitam os espíritos purificados dos antepassados, que visitam este
mundo, trazendo felicidade e protecção aos viventes. Esta concepção é de
cariz mais popular. Há que notar, mais uma vez, que o xintoísmo atribui
a importância fundamental a este mundo. De facto, tanto kami como
antepassados, embora habitem noutros planos, conservam estreitas
relações com o mundo dos humanos.
É claro que estas concepções devem ser lidas, não de modo físico, sob
o qual se tornariam ultrapassadas, mas de modo metafísico, como na
religião cristã.
A natureza
Há que reconhecer que o homem vive graças à natureza, a tudo quanto
ela lhe fornece, pelo que a sua atitude deve ser de profunda gratidão e
reverência. Mesmo quando a natureza se desenfreia, o ser humano é
forçado a reconhecer que muito maiores são os benefícios que dela
recebe. O homem, apesar de todo o seu avanço
tecnológico, não possui poder pleno, e deve reconhecer a sua humildade, num espírito de coexistência pacífica.
Há inúmeras divindades ligadas a elementos naturais, o que atesta que
tudo é governado pelos kami. Logo, a natureza reveste um carácter
sagrado, regendo-se por uma vontade e sensibilidade próprias, por uma
espiritualidade misteriosa, mais do que propriamente por leis naturais.
Sendo que toda a natureza descende de "kamis" assim como a
humanidade, fica claro que tudo está interligado tendo como origem em
comum um ancestral divino. Assim sendo o ser humano e a natureza, seus
elementos, minerais, vegetais e animais, são parentes.
A vida dessassociada da natureza é incompatível com o Xintô, o ser
humano não deve combatê-la ou transformá-la sem necessidade vital. É
comum aos praticantes xintoístas o retiro para ambientes onde possam
promover a integração com a natureza, uma forma de purificação, elevação
espiritual, e oportunidade para reflexão e meditação.
Como já foi dito na introdução, o Xintô e a própria cultura japonesa
pregam que sendo a natureza sagrada, sua destruição é indesejável, e não
existe o sentimento de hostilidade inerente recíproca imperante no
ocidente.
Outra prática bastante disseminada é a deificação de determinados
elementos naturais em especial. Como por exemplo a árvore que representa
um família ou um rocha que ocupa lugar de destaque em determinada
cidade. Principalmente na antiguidade, era tradicional em muitas aldeias
a veneração de algum "ícone" que representasse bem seu povoado ou
dinastia.
O comportamento xintoísta é tão avesso a interferência no cenário
natural, para ele é sagrado e perfeito, que qualquer atividade que
implique em utilização ostensiva dos recursos naturais deve ser
recompensada no mínimo com a construção de um templo dedicado a
natureza.
As Montanhas
As montanhas no Japão são muito numerosas e estão envolvidas nos
aspectos da vida diária, é delas que brotam os rios, e são consideradas
sagradas. Não são kami em si, mas sim moradias de kami. O território
montanhoso é tão respeitado que mesmo hoje em dia, o alpinismo não é uma
atividade muito difundida pelo povo japonês, e isso num país onde é
difícil ver todo um horizonte livre da presença de montanhas.
É muito comum a construção de templos nessas regiões, assim como
cerimônias de deificação e requisição de boas colheitas à "deusa do
arrozal" que vive nas montanhas. Nas lendas japonesas as montanhas
ocupam lugar de destaque na associação com grandes desafios, buscas e
peregrinações.
Moral
Como vimos, o homem é considerado como naturalmente bom e puro, participante da natureza dos
kami, e que o
pecado e a
impureza se devem a influências malignas dos
espíritos
habitantes do mundo inferior. Por isso, o homem recebe directamente dos
kami uma componente natural, um ideal celeste a ser realizado nesta
vida, modelo de vivência dado e aceite como meta, e que representa a
ligação da vida humana à vida divina. Este é o maior conceito
moral do xintoísmo, o chamado
michi,
termo que significa “caminho”. Trata-se de um ideal de justiça e de
carácter, de que ninguém se deve afastar, elemento básico da vida
xintoísta e do próprio culto. O
michi, obediência ao curso da
natureza, reveste-se duma extrema simplicidade e naturalidade.
Para o xintoísmo, a vida só alcança o seu sentido e a sua finalidade se for vivida na
pureza,
que é o seu estado natural. A vida que não leva isto em conta é
radicalmente antixintoísta e não agrada aos kami que, desgostosos, podem
mandar vários tipos de desgraças para avisar o pecador, e até mesmo
castigá-lo. Procura-se esse ideal de pureza, tanto corporal como mental e
espiritual, que leva o homem à sua plenitude. Embora o homem não possa
controlar tudo o que acontece e pode danificar a sua pureza, tem a
responsabilidade de procurar viver uma vida autenticamente xintoísta,
recta, clara e honesta, segundo a vontade dos kami.
Vítima de forças que lhe escapam, o homem corrompido é alguém que deixou de pertencer, durante algum tempo, ao mundo da
bondade e da
felicidade, possuindo, porém, o direito de voltar a ele. Por isso, o
pecado e a falta moral, embora reconhecidos, revestem um carácter diferente do que têm para os ocidentais.
Aquilo que pode danificar a pureza pode ser de carácter voluntário ou involuntário. As faltas voluntárias são verdadeiros
pecados, da responsabilidade daquele que os pratica, e denominam-se
tsumi.
As faltas involuntárias não fazem, obviamente, a pessoa incorrer em
igual responsabilidade, embora ela possa ter contribuído para a
situação, devido à sua má conduta ou imprudência. Incluem-se neste grupo
as calamidades ou desgraças (
wazawai) e as manchas, impurezas (
kegari), adquiridas por contactos com elementos como a
cadáver, o
sangue,
as relações carnais, etc. Estes males, como vimos, têm origem no mundo
inferior, que envia as calamidades e impurezas e incita aos crimes. Para
afastar a sua nefasta influência, realizam-se vários tipos de
exorcismos.
Isto, que parece uma confusão entre mal moral e acontecimentos
fortuitos, tem a sua justificação no preceito fundamental da pureza que,
para muitos pensadores xintoístas, se sobrepõe aos
ritos e ao
culto.
Tudo isto é a concepção geral acerca da moralidade. No que se refere
ao concreto, as concepções morais rigidos do xintoísmo apresentam
bastante pobreza, pois não se encontram códigos morais definidos
propriamente ditos, como existem noutras religiões orientais, como o
confucionismo, por exemplo. O
michi apresenta-se como algo
extremamente vago e simples, o que pode levar a pensar que o xintoísmo
rejeita propositadamente qualquer tipo de regras concretas de moral.
Mas, a este respeito, um grande teólogo xintoísta, Motoori (
1730-
1801),
apresenta uma teoria interessante. Diz ele que os homens foram
naturalmente dotados pelos kami de conhecimento do que devem ou não
fazer, pelo que não precisam de códigos morais. Se necessitassem de tal
coisa, seriam inferiores aos animais que, embora em grau inferior, sabem
como devem proceder. A ausência deliberada dum código moral no
xintoísmo é, para Motoori, motivo de orgulho, pois significa que aos
japoneses basta-lhes seguirem a moral do coração e do espírito puro,
neles inscrita pelos kami. Os chineses e outros, por exemplo, com as
suas abundantes teorias morais, só mostravam que eram, na verdade,
pessoas perversas e depravadas.
Culto
Finalidade do culto xintoísta
As práticas do xintoísmo têm a finalidade de se dirigirem aos kami,
para que escutem a oração dos fiéis. As orações podem ter diversos
sentidos: pedidos, muitas vezes relacionados com a vida do dia-a-dia ou
com alguma ocasião importante; acções de graças, por um benefício
concedido, uma meta atingida, um obstáculo ultrapassado; promessas de
acção futura em favor dos homens e da sociedade; tentativas de aplacar a
fúria dos kami, irritados por alguma coisa; ou, muito simplesmente,
para os louvar, rendendo-lhes homenagem sincera, sem esperar
propriamente nada de especial em troca.
Através de vários elementos, os fiéis podem estabelecer relação com
os kami, relação muitas vezes de carácter filial, em que uma divindade é
tutelar de dada região ou localidade. Os "paroquianos" estabelecem
especial ligação com esse kami, que os atende e protege, nos mais
variados acontecimentos da sua vida.
Organização sacerdotal
Os
santuários têm ao seu serviço um número variável de
sacerdotes, que neles oficiam de vários modos. São designados pelo termo
kannushi(神主), que significa “mestre do kami”, ou então pelo termo chinês
shinshoku(神職), “pessoa cuja profissão é servir a divindade”.
A sua principal função é a de servir e adorar os
kami e servir
como um elo entre eles e os crentes através da execução dos ritos nos
santuários, visando assegurar a proteção do povo japonês e do
imperador.
Não costumam falar em público, tendo sido mesmo proibidos disso em
1885, no contexto do xintoísmo de Estado. Hoje em dia, porém, os
sacerdotes pregadores começam a ser apreciados. Não são considerados
como chefes ou guias espirituais, mas somente como oficiantes de atos de
culto, a pedido dos fiéis e em seu benefício.
O
sacerdócio xintoísta é aberto às
mulheres. As sacerdotisas têm mesmo tendência a aumentar, encontrando-se algumas à frente de grandes
templos. O sacerdócio feminino desenvolveu-se no Japão após a
Segunda Guerra Mundial. Para além de sacerdotisas, as mulheres podem ainda ser
mikos(巫女). Uma
miko
é uma virgem que leva uma vida monástica, ajudando os sacerdotes a
executar os ritos nos templos e executando as danças sagradas. Exercem
estas funções durante cinco a dez anos.
Os sacerdotes repartem-se por várias categorias. A mais elevada é a de Princesa consagrada ao
kami(祭
主 "saishu"), uma princesa virgem da família imperial. Atualmente, só
existe uma, no santuário de Ise. Em seguida, temos o Grande Sacerdote, à
frente de cada santuário, e depois o restante clero, que se reparte por
funções diferenciadas.
Hoje em dia, verifica-se uma nova preocupação em revitalizar o
xintoísmo e os santuários, buscando novas tendências, pelo que se tem
agora grande cuidado com a preparação intelectual e teológica dos
candidatos a sacerdotes. Os regulamentos atuais prevêem vários diplomas
possíveis, dos quais pelo menos um é exigido aos sacerdotes, que apenas o
obtêm após vários anos de estudo em
universidades ou institutos especiais. Hoje em dia a formação de um sacerdote xintoísta é garantida pela frequência de um curso na
Universidade de Kokugakuim ou da
Universidade de Kogakkan.
Os sacerdotes, uma vez consagrados, mantêm as suas funções
habitualmente toda a vida, mesmo não sendo obrigados a exercê-las. Moram
fora do santuário, com exceção do Grande Sacerdote. Os sacerdotes
xintoístas não são obrigados a levar uma vida de
castidade, podendo
casar e fundar uma
família, o que geralmente fazem.
As vestes sacerdotais apresentam grande beleza artística, de raízes
nos séculos passados, mas só são utilizadas nos santuários e em ocasiões
especiais na rua. A indumentária para o culto fica completa com um
toucado especial e sapatos próprios. Sobre a testa de um "Yamabushi",
coloca-se uma pequena caixa preta chamada "tokin", que é amarrada à sua
cabeça com um cordão preto. Durante as cerimónias, os sacerdotes
costumam trazer também uma espécie de ceptro de madeira, que tem um
significado purificador, mas sobre o qual não recai qualquer tipo de
veneração.
Fora das funções rituais, os sacerdotes não usam qualquer tipo de sinal exterior, que os distinga dos
leigos.
Os santuários
Os
santuários xintoístas espalham-se por todo o
Japão,
constituindo lugares privilegiados de culto. Mas, embora surjam por
todo o lado, têm geralmente alguma razão especial para existir: um
fenómeno natural, um acontecimento histórico ou mítico, a simples
devoção pessoal ou o patronato político. Também os há motivados por
revelações em sonhos, ou porque simplesmente era necessário um lugar de
culto naquele local.
Quando o local de construção de um novo santuário é escolhido, põe-se
em prática uma série de ritos, destinados a purificar o lugar e a
invocar a presença do kami, para que se digne vir habitar naquele sítio.
Se mais tarde for decidido deixar aquele santuário ou mudá-lo para
outro lugar, existem os ritos inversos, pelos quais se convida
delicadamente o kami a retirar-se.
O santuário encontra-se na base do xintoísmo. É nesse local que a
divindade habita e que escuta os seus fiéis, e é também centro de
ligação da comunidade e de partilha de identidade. Neste contexto, podem
distinguir-se três grandes tipos de santuários, conforme a abrangência
que possuem:
- os de dimensão local, centros de partilha de uma comunidade
reduzida, onde se venera o kami da localidade. Este tipo de santuário
congrega em torno de si as pessoas da aldeia,
que sentem uma filiação comum em relação à divindade. O santuário
aparece como local de estreitamento de relações entre kami e
paroquianos.
- santuários de tipo particular, mais abrangentes, procurados por motivos concretos e determinados, como o êxito nos negócios ou nos estudos, ou outro tipo de protecção especial. Este género de santuários encontra-se por todo o Japão.
- por último, os grandes santuários nacionais, destino de peregrinação
de milhões de pessoas, todos os anos, dos quais o mais importante é o
de Ise, já referido, em honra da deusa Amaterasu, e que está
directamente ligado à casa imperial.
Além destes, há ainda templos dedicados a kami de guerra, a valores
marciais ou em honra de pessoas notáveis, a quem se pedem favores
específicos.
O santuário é entendido como um local onde as pessoas se vêm
“refrescar” espiritualmente. Neles, está-se em profunda comunhão com a
natureza, que abre o homem a uma
espiritualidade plena e à identificação pessoal com os kami.
Os templos xintoístas podem assumir as mais diversas formas e
tamanhos, mas apresentam certos aspectos em comum. Todos eles são
constituídos por um edifício, ou um conjunto deles, inseridos num espaço
envolvente, rodeados pela
natureza. Têm particular importância as
árvores, principalmente a árvore sagrada, sakaki (榊), utilizada em muitos dos rituais.
O espaço em volta do edifício principal é por vezes muito extenso, e
apresenta-se dividido em várias partes. Ao longo do caminho, que nunca é
em linha recta, encontra-se uma série de diferentes elementos
separadores, que marcam também etapas duma caminhada espiritual. São
eles:
- os torii(鳥
居), muito característicos dos templos japoneses, que são uma espécie de
portais sem porta, constituídos por dois postes verticais e duas traves
horizontais. Aparece um de imediato no início do caminho e depois
geralmente mais dois, ou mesmo uma grande fila deles. A série de torii repete-se para cada via de acesso ao santuário;
- pontes, por vezes várias, até se chegar ao templo algumas
monumentais e muito elaboradas. A água é um elemento purificador, pelo
que os cursos de água debaixo das pontes constituem uma eficaz barreira
contra toda a impureza;
- barreiras e paliçadas, com portas, que simbolizam a entrada no local sagrado, reservado ao homem puro.
Encontram-se também jardins, lagos, lanternas. Ainda antes de se chegar ao edifício principal, depara-se um tanque de
água
limpa, geralmente abrigado por um alpendre, no qual os fiéis se lavam,
purificando-se de todas as impurezas e pecados, servindo-se, para isso,
dumas colheres compridas de
bambu, para tirar a água.
É costume também, em ocasiões solenes, libertar
aves,
peixes e outros animais.
Chegamos, finalmente, ao edifício do templo. Pode haver vários, num
mesmo santuário, dirigidos a diferentes kami. Têm geralmente dimensões
modestas, não obstante a grande diversidade de tamanhos. São
constituídos por três secções:
- uma sala de orações (Haiden)
(拝殿) para os fiéis, onde eles dirigem as suas preces ao kami. À entrada
está uma grande caixa de madeira, para depositar moedas, e um sino,
ligado a uma corda, que serve para advertir o kami da presença do fiel;
- uma sala mais pequena (Honden) (本殿), nunca visitada, considerada a morada física do kami, e onde podem estar depositados objectos simbólicos, como espelhos, jóias ou espadas,
invólucros onde reside o espírito da divindade. O espelho,
particularmente, é considerado morada privilegiada do espírito divino, e
tem origem muito antiga, sendo já mencionado na mitologia japonesa.
Alguns templos prevêem nos seus estatutos serem totalmente
reconstruídos periodicamente. É o caso do templo de Ise, reconstruído de
vinte em vinte anos. Essa ocasião é rodeada de ritos próprios, para
convidar o kami a mudar de residência. Embora reconstruídos, os templos
mantêm o estilo do anterior, pelo que os novos não diferem dos antigos e
originais.
Alguns santuários possuem também uma espécie de
museu, não raras vezes repleto de peças de grande valor, consideradas espólio da divindade.
Os ritos exercidos nos santuários, apesar de muito diversos,
apresentam o seguinte esquema: o sacerdote, depois de purificado, invoca
o kami. Faz ofertas propiciatórias, de bebidas e alimentos, a que se
segue a oferta de jogos, danças e representações, para entreter a
divindade. No fim, o kami é convidado a retirar-se, seguindo-se uma
refeição fraterna.
Ritos de purificação
A purificação é uma prática fundamental em toda a prática xintoísta. É
por ela que o homem se liberta, regressando ao seu estado inicial de
pureza, a que tem direito. Para a purificação, que antecede qualquer
acto religioso, particular ou comunitário, utilizam-se diversos ritos,
que assumem formas diferentes.
Os kami não suportam a impureza, pelo que se exerce sempre um
conjunto de práticas purificativas antes do culto propriamente dito, que
tornam puros os participantes, os objectos e as oferendas. Os ritos de
purificação assumem três formas distintas:
- o misogi (禊), que consiste na purificação por meio da água.
A água é tida como poderoso elemento purificador, crença já muito
antiga, pois é referida na mitologia: o deus Izanagi, depois de fugir
dos infernos, banhou-se na água dum rio, para se purificar das
imundícies contraídas naquele lugar. Ao banhar-se ou lavar-se na água, o
fiel xintoísta obtém a purificação das impurezas, tanto das voluntárias
como das involuntárias. Pela água, purifica-se o corpo e a alma. O
misogi é depois estendido a níveis sucessivamente superiores: o coração,
o meio envolvente, a alma;
- o harai (祓), que é um tipo de purificação algo próximo do exorcismo.
É realizado por um sacerdote, que agita sobre o que deve ser purificado
ramos da árvore sagrada, sakaki, ou uma vara com tiras de papel
penduradas, ónusa e joga-se um punhado de sal. Por este meio, obtém-se a
purificação de todas as manchas, corporais e espirituais, bem como o
afastamento de todas as influências malignas.
Duas vezes por ano, no fim de Junho e de Dezembro, realiza-se uma purificação solene, ou grande exorcismo, o chamado
o-harai. No recinto do santuário, reúnem-se muitas pessoas, que recebem umas tiras de cânhamo ou de papel branco (
kirinusa).
Depois de recitar a oração de purificação, o sacerdote agita a vara com
os papéis, enquanto as pessoas agitam também as suas tiras. Estas
tornam-se objectos de substituição, contendo todas as impurezas, e são
lançadas a
rios ou ao
mar. Nalguns santuários, um exercício semelhante é feito com papéis recortados em forma humana (
hitogata), que a pessoa passa pelo corpo, depois de neles ter escrito o nome;
- o imi (忌), que é um período de jejum
a ser realizado antes das cerimónias. Tem duração diferente, conforme a
importância do rito. Consiste em abster-se de determinados alimentos e
bebidas, bem como de palavras e acções menos próprias. É um período de
recolhimento pessoal, evitando todo o tipo de impureza, sem se ouvir
música e sem se preocupar com assuntos que causem fadiga ou sofrimento.
Este tipo de purificação é principalmente realizado pelos sacerdotes,
que se retiram para outro lugar e fazem abluções. Após este tempo,
qualquer pessoa está apta a participar nas cerimónias mais importantes.
Culto individual
Templo xintoísta de Jyuniso.
Na sua vida diária, todo o fiel xintoísta tem a obrigação de prestar
homenagem aos kami, o que pode ser feito nos mais variados lugares e
ocasiões, desde a casa até ao templo passando pelo campo ou pela rua.
Revestem uma importância particular as visitas aos santuários, que
podem ser realizadas com diferentes objectivos: prestar contas, louvar,
agradecer ou rogar. Todos os fiéis têm como dever ir visitar
periodicamente o kami e relatar-lhe o que lhe tem acontecido na vida
diária, não no intuito de pedir perdão, mas para simples informação. É
comum também agradecer graças recebidas ou louvar simplesmente o kami. O
pedido de graças faz-se geralmente em favor de outra pessoa ou da
sociedade, pois considera-se de mau tom pedir para si próprio. As
orações também não devem ser muito longas, complexas, para não aborrecer
o kami. Muitas vezes, são os sacerdotes os encarregados de transmitir
as preces às divindades, devendo saber interpretar, por sinais diversos,
se a oração foi ou não bem recebida. A
adivinhação
é um rito que também acompanha frequentemente o rito individual: faz-se
através de varetas numeradas, dentro duma caixa, que correspondem a
predições e conselhos.
Põem-se em prática também uma série de rituais específicos, entre os
quais o mais característico é o bater das palmas. Depois de reverências
solenes, diante do templo do kami, o devoto bate várias vezes as palmas,
finalizando de novo com reverências. Este gesto parece destinar-se a
atrair a atenção da divindade, mas o seu sentido não se esgota
simplesmente aí.
As ofertas feitas são geralmente de ramos de
sakaki, a que se prendem tiras de papel.
Em sua casa, os fiéis têm geralmente um pequeno altar doméstico (
kamidana),
onde colocam vários amuletos: um do santuário local, outro do grande
santuário nacional de Ise, e mais algum, conforme as devoções e
preferências. Todas as manhãs, são feitas oferendas:
saquê (
aguardente de
arroz), arroz,
sal. Acende-se uma lamparina e fazem-se orações aos kami.
Um outro costume é o das
peregrinações.
Os japoneses apreciam peregrinar, ganhando méritos pela austeridade e
pelas privações. Mas é claro que hoje em dia as viagens são muito mais
confortáveis. É hábito ter um livrinho, onde se registam os emblemas dos
vários santuários percorridos, assim como adquirir amuletos, que servem
de recordações.
Festas
A religião xintoísta comemora um grande número de festas, com uma
grande variedade de costumes e de motivos para celebrar. Não raramente,
verifica-se um grande intercâmbio entre
religião e
estado civil: várias festividades xintoístas são feitas
feriados,
e vice-versa. As festas dividem-se em dois grupos: as comunitárias,
respeitantes à população em geral, e as particulares, de âmbito mais
pessoal e familiar.
Diversos tipos de ritos festivos são celebrados nos
santuários.
Cotidianamente, fazem-se cerimónias de oferendas, de manhã. No primeiro
dia de cada mês também há ritos próprios. Estes são ritos de dimensão
modesta.
Reisai
Cada santuário, uma ou duas vezes por ano, celebra uma data festiva,
relacionada com o kami ou com o seu templo. O dia em que é celebrada a
festa pode ter múltiplos significados: pode corresponder ao dia de
fundação do
santuário, a um dia importante na sua história ou ser um dia associado à divindade do santuário.
Durante estas festas ocorre geralmente uma
procissão dos kami, razão pela qual as festas são também chamadas de
shinkó-sai ("Festa da Procissão dos Deuses") ou
togyo-sai ("Festa da Augusta Travessia"). Os kami são instalados num carro (
hóren) ou num palanquim (
mikoshi) e são passeados pela aldeia ou cidade.
Junta-se muita gente, que agita ramos de
árvore
e estandartes, fazendo daquele acontecimento algo muito colorido e
vistoso. Estabelecem-se locais de paragem, para o kami descansar. A
finalidade deste acto é simplesmente entreter e divertir a divindade,
pedindo-lhe, ao mesmo tempo, que continue a dispensar a sua protecção.
Estas festas são também ocasião para jogos, artes e danças, tendo
especial significado para o estreitamento de laços entre kami e
paroquianos, e destes entre si.
Festas da Primavera
São várias as festas da
Primavera (
haru matsuri). No dia
17 de Fevereiro desenrola-se a festa
Toshigoi-matsuri no palácio imperial e em todos os santuários do
Japão, durante a qual é feita uma prece que solicita boas colheitas e a prosperidade do país.
Festas do Verão
Estas festas (
natsu matsuri) são essencialmente urbanas e tem como principal objectivo afastar as calamidades.
Uma das festas de Verão mais conhecidas é o
Festival de Gion que se desenrola no
santuário Yasaka em
Quioto no mês de
Julho
e que inclui uma marcha com carros ricamente decorados. Segundo a
tradição esta festa teria surgido no começo da época Heian, num tempo
marcado por grande número de epidemias; para afastá-las os
demónios aos quais se atribuíam estas doenças realizavam-se orações.
Outra importante festa é a do Rei Celeste (
Tennó-matsuri) que tem lugar no santuário Tsushima situado na cidade com o mesmo
nome (em
Aichi).
Na véspera da festa ocorre uma cerimónia na qual todas as impurezas são
colocadas em canas que são largadas no rio. No dia da festa vários
barcos, decorados com
lanternas, deslizam pelo rio Tenno ao som de música e à luz de fogos-de-artifício.
Festas do Outono
As festas do
Outono (
aki matsuri) servem para agradecer às divindades pela existência de uma colheita abundante.
No santuário de Ise, a
17 de Outubro, decorre o importante rito do
kanname-sai ("cerimónia da prova"), durante o qual as primícias das colheitas dos
cereais são oferecidos à deusa Amaterasu. São também feitas oferendas das primeiras espigas de
arroz cultivadas pelo imperador e pelos agricultores das províncias.
A
23 de Novembro, é o dia de Agradecimento pelo
Trabalho, com novas ofertas e orações pela prosperidade do Japão.
Feriados
- O Ano Novo, em que os fiéis acorrem aos santuários, para a primeira peregrinação do ano
- O dia do Respeito pelas Pessoas Idosas, a 15 de Setembro, em que se apela ao amor e agradecimento aos mais velhos
Xintoísmo e ciclo de vida
Os vários momentos da vida humana, muitas vezes ligados a
ritos de passagem, são ocasião para realizar um tipo de festas de motivação mais pessoal, realizadas no seio da
família. São ocasião de agradecimento, de pedido e de renovação de propósitos para com os kami.
Primeira apresentação no santuário
A primeira apresentação no santuário ou
hatsumyia mairi consiste em levar ao
santuário local os
recém-nascidos
para serem apresentados às divindades. No caso dos meninos a
apresentação ocorre no trigésimo primeiro dia e nas meninas no trigésimo
terceiro dia (embora possam ocorrer variantes locais quanto ao número
de dias). No passado era hábito a criança ser levada ao santuário pela
avó, porque se considerava que a mãe estava impura por ter dado à luz,
mas hoje em dia a criança é muitas vezes levada pela mãe.
Shichigosan
No dia
15 de Novembro as famílias deslocam-se aos santuários com os filhos para agradecer aos kami o fato destes gozarem de
saúde
e para orar pelo seu crescimento. As crianças que acompanham os pais
são os meninos de três e cinco anos e as meninas de três e sete anos. O
nome do festival deriva precisamente da idade das crianças:
shichi(sete),
go (cinco) e
san (três).
Celebração da maturidade
A
15 de Janeiro
celebra-se a festa da Idade Adulta (Seijin Shiki). Nesse dia os jovens
com vinte anos reúnem-se nos santuários para receber uma bênção, embora a
festa também possua um carácter estatal, com cerimónias nas
prefeituras. A Constituição japonesa atribui a
maioridade aos jovens que atingiram os vinte anos.
Outros momentos
- votos por um parto fácil: no quinto mês, a mulher grávida coloca no ventre um cinto de tecido branco, purificado, para proteger o feto, e ora pela criança que vai nascer;
- as festas chamadas de sekku, que para os meninos é no dia 5 de Abril, em que se estendem estandartes em forma de carpa, se fazem bonecos em figura de guerreiros e se oferecem bolos. Para as meninas, é no dia 3 de Março, em que se colocam bonecas sobre um estrado e se oferecem bebidas, doces e bolos;
- a entrada na vida activa, que é ocasião para o jovem agradecer aos
kami, comprometendo-se a dar o seu melhor para o serviço da sociedade;
- o casamento,
que é celebrado numa cerimónia muito solene, na presença de um
sacerdote, que inclui oferendas, orações e promessas aos kami,
seguindo-se um banquete;
- a expulsão das maldições.
Certas idades são consideradas nefastas, sujeitas a desgraças: 35, 42 e
61 anos para os homens e 19, 33 e 37 anos para as mulheres. Nessas
alturas, um sacerdote realiza um exorcismo próprio e recomenda bastante
prudência, pois as dificuldades ameaçam acumular-se;
- as festas de longevidade: certos aniversários são comemorados com
uma festa familiar e uma visita ao santuário. É o que se faz no 60º,
70º, 77º, 80º, 88º, 90º e 99º aniversários.
Influências
A tradição religiosa do xintoísmo é anterior ao budismo, que posteriormente foi introduzido no Japão no
século VI.
O contato entre as duas religiões modificou ambas. Os budistas adotaram
divindades xintoístas, e estes, que consideravam seus deuses espíritos
invisíveis e sem formas precisas, aprenderam com o budismo a erigir
imagens e templos votivos. Proclamou-se inclusive que as duas religiões
eram manifestações diferentes da mesma verdade, o que originou uma
tendência sincretista. Ambas religiões representam a religiosidade
japonesa e os japoneses chegam a praticar os ritos de ambas tradições de
acordo com a natureza da ocasião (por exemplo, preferem rituais
xintoístas para rituais de nascimento e casamento e rituais budistas em
eventos fúnebres).
Algumas das novas religiões japonesas tem forte influência xintoísta.
O xintoísmo não pretende converter, por isso sua expansão fora das
ilhas japonesas limitou-se geralmente a descendentes de japoneses.
Referências