segunda-feira, 11 de junho de 2012

“What do you think about Iran?”



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Samy Adghirni
Um brasileiro no Irã

04/06/12 - 13:28

Xenofobia é o medo daquele ou daquela que vem de fora, a rejeição de quem não é “como a gente”. O sentimento oposto, de amor ao estrangeiro, chama-se xenofilia. E os iranianos estão entre os povos mais xenófilos que já vi em anos de viagem pelo mundo.

Os mais receptivos e entusiasmados costumam ser os jovens. Quando percebem a presença de algum gringo na rua, é comum pedirem para tirar foto ou perguntarem qual o seu email ou contato no Facebook (barrado, mas usado em larga escala por meio de antifiltros). Alguns estrangeiros acabam até convidados para almoçar na casa de desconhecidos. A gentileza pode chegar ao ponto de ser embaraçosa para os padrões ocidentais. Mas o que os iranianos mais gostam é bater papo com quem é de fora. Tanto para praticar o inglês quanto para saber o que mundo pensa deles _ e quem sabe ajudar a melhorar a péssima imagem externa do país.

A conversa geralmente começa com o tradicional “welcome to Iran”, seguido da pergunta “what do you think about Iran?”, que pode ser declinada de outras maneiras, como “what is your opinion about Iran?”, “do you like Iran?” ou, em casos de inglês mais precário, “Iran good?”.

A interrogação reflete um sentimento contraditório amplamente difundido por aqui.

Por um lado, os iranianos são conscientes de que boa parte do mundo não gosta ou tem medo deles. Ressentem-se muito dos estereótipos negativos, que incluem um governo visto como fanático, supostos planos malignos para fabricar uma bomba atômica e relatos de apoio a grupos armados radicais no Oriente Médio.

Por outro lado, a população iraniana tende a ser ufanista e nacionalista ao extremo. Difícil achar alguém que não veja o Irã, de esplendor milenar, como uma das nações mais importantes e refinadas, mas cujo papel histórico e presente não é devidamente reconhecido. Iranianos se enxergam como parte do mundo rico e ficam ofendidos quando comparados a populações de outros países em desenvolvimento, árabes principalmente.

Ou seja, a pergunta sobre o que o estrangeiro, visitante ou residente, acha do Irã reflete uma profunda insegurança dos iranianos em relação à sua autopercepção como nação.

Vale a pena levar adiante a conversa. Quanto maior a troca, mais se aprende sobre o país e sua gente. O papo certamente desvendará a polarização extrema da sociedade.

Simpatizantes do governo, ou ao menos do sistema de governo em vigor, se esforçarão para explicar que o povo local é gentil e acolhedor. Dirão que a mídia ocidental mente, e que o Irã é um país moderno, desenvolvido e, à sua maneira, democrático. Citarão exemplos de campos onde a República Islâmica é bem sucedida (luta contra a miséria, educação, tecnologia, ciência etc) e apontarão, com razão, para a hipocrisia e política de dois pesos e duas medidas do Ocidente, que incomoda o país por seu programa nuclear enquanto fecha os olhos para Israel e Paquistão, detentores da bomba atômica e alheios a qualquer esforço de não proliferação nuclear. Em nome da pluralidade de perspectivas, acho válido ouvir até opiniões extremas, como a do tiozinho taxista que vibrou ao saber que eu era brasileiro (“país amigo”) para em seguida destilar o tradicional veneno do “morte aos EUA” e “morte a Israel”. Pura retórica. Praticamente não há registro de violência física por parte de cidadãos comuns contra estrangeiros no Irã. Além disso, as pessoas mais conservadoras e tradicionais muitas vezes são as mais generosas e acolhedoras, principalmente no interior do país.

Na outra ponta da sociedade, os iranianos mais liberais farão de tudo para convencer o gringo de que boa parte da população odeia o governo/regime e gostaria de viver ao modo ocidental. Estrangeiros, principalmente em Teerã, costumam ser convidados para festas privadas onde rolam bebida, drogas e pegação. Essa parcela da população, geralmente com renda mais alta e mais acesso a cultura, tem padrão de consumo parecido com o de americanos e europeus e vive querendo tirar férias ou estudar no exterior. Mas mesmo nesse meio, predomina a vontade de compartilhar o amor à pátria com os estrangeiros.

No fundo, os iranianos gostariam mesmo é que esse carinho com os estrangeiros fosse correspondido.

http://samyadghirni.blogfolha.uol.com.b ... bout-iran/

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